Itaperuna - Grávida de 8 meses com Zika relata informações confusas, falta de prevenção e descaso da
- Gisely Azevedo
- 4 de jan. de 2016
- 3 min de leitura

O Zika Vírus é uma realidade em Itaperuna, apesar das informações confusas que circulam e da impossibilidade de um exame específico que comprove ou não a infecção pelo vírus. Leia abaixo o depoimento de Gisely Azevedo, gestante de 8 meses que, ao perceber que estava com os sintomas da doença, procurou o pronto-atendimento do HSJA e relatou com exclusividade para o Portal Itaclick a sua experiência.
“No dia 31/12, fui até o HSJA apresentando manchas avermelhadas pelo corpo, olhos irritados e dores nas articulações. Minha preocupação era obviamente com a minha saúde, porém agravada pelo fato de estar grávida de 8 meses e haver um surto de Zika vírus na cidade. É sabido e notório que uma das sequelas da contaminação por Zika em mulheres grávidas até o 3º mês é o nascimento de bebês com microcefalia. Felizmente essa hipótese foi descartada pelo fato de eu já estar no 8º mês, mas mesmo assim a angústia é incalculável.
Fui prontamente atendida por uma médica que me submeteu a um exame de sangue. Enquanto aguardava o resultado, entrei em contato com outras gestantes na mesma situação, todas desesperadas e completamente desinformadas.
Todas nós passamos pelo mesmo exame (que não constatou a infecção) e, mesmo apresentando claramente os sintomas, fomos informadas pelos profissionais que poderia tratar-se de uma virose qualquer e que a afirmação da presença ou não do vírus não era possível e que deveríamos procurar o posto de saúde para que o hemograma fosse repetido. Porém, não há exame específico para Zika. Segundo informações de profissionais ligados ao setor, a constatação do Zika é feita por eliminação. É feita uma sorologia para dengue. Se não for dengue, supõe-se que seja Zika, mas não há como confirmar.
Obtive informações dos próprios profissionais de que todos os dias são apresentados cerca de 20 casos de gestantes com sintomas de Zika somente no HSJA, e estas, assim como eu, são enviadas para casa sem a informação se estão ou não infectadas.
Eu sei que, no caso de infecção, o tratamento para o Zika Vírus é bastante simples e sem necessidade de internação, mas penso que com relação a gestantes, a simples presença de sintomas deveria ser investigada com mais atenção e haver um monitoramento mais ostensivo devido às graves sequelas que a virose pode causar.
No entanto, o que pude perceber é que os profissionais parecem ser orientados a não diagnosticar nenhuma gestante com a doença com o claro objetivo de não causar pânico, como se isso fosse possível, já que a desinformação é muito mais perigosa.
Enquanto isso, o mosquito se prolifera à vontade e a doença vai se espalhando. De minha parte, só vejo a secretaria de saúde dando informações de que está se mobilizando para intensificar o combate. Se é verdade eu não sei. Só sei que em minha residência não recebemos a visita do agente de saúde há mais de um ano. Estou vendo muito blablablá e pouquíssima (pra não dizer nenhuma) ação efetiva de combate ou conscientização da população. Há poucos dias vi uma declaração do secretário Marcelo Poeys que me deixou indignada: ao comentar os crescentes casos de microcefalia no país e o nascimento de um bebê com essas condições em Itaperuna, ele tentou minimizar dizendo que “Existem poucos casos de morte relacionados à microcefalia”. Ora, quer dizer que é preciso morrer para se dar atenção a uma deformação neurológica gravíssima? Já não basta o fardo pesado que as mães desses bebês vão ter que carregar para o resto de suas vidas? Isso eu falo como mãe, vendo o lado humano da situação. Mas ainda tem o impacto no já precário e combalido sistema público de saúde. Será que ele consegue dormir sabendo que várias outras crianças podem nascer nos próximos meses com má formação cerebral e que muito pouco vem sendo feito para se evitar essas tragédias?
Ao que me pareceu, estão esperando que o pior aconteça para saber que medidas tomar. Enquanto isso, seguimos com informações confusas, falta de prevenção e descaso.”
Fotos e texto: Gisely Azevedo . (Gisely Azevedo é Itaperunense, Bacharel em Direito e está em seu 8º mês de gestação.)
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